30 de janeiro de 2010

Frio

6 graus negativos e não se vê ninguem na rua. Está tudo quente em casa.

12 de janeiro de 2010

Portugal

Gosto do que é antigo, hoje. Não pela patine, ou pela reverência do passado, mas porque até há 100 anos atrás no Mundo civilizado (até há bem menos em Portugal) a proporção de objectos quotidianos feitos à mão era enorme comparada com o que é hoje. Hoje é impossível (e não muito desejável) ter massas de artesãos mal pagos a aplicar cornijas de estuque, a cortar guarnições de madeira na topia, a cozer tijolos. Pelo menos não no Mundo civilizado, em que a exploração não é bem vista, e por isso tudo o que é manual é muito caro e reservado a poucos.
Assim, a arquitectura antiga, por muito má, desproporcionada, desconfortável que às vezes possa ser, tem sempre essa característica que a redime: o charme de ter sido construída à mão, por meios relativamente simples e pouco sofisticados, aproveitando os recursos e os talentos do sítio. E facilmente actualizável a um modo de vida contemporâneo, sem grandes custos. Uma casa antiga na Guarda é diferente de uma casa antiga no Porto, ou em Aveiro, ou em Lisboa, e nisso está o seu valor.
Em Portugal, além de muita coisa antiga a cair, há muito modernaço novo, e cada vez mais. É o modernaço das recuperações modernaças, que não tem medo da nossa época e de a afirmar no Antigo. Afirmar, como quem diz, à marretada. Feito por arquitectos medíocres, desenhadores jeitosos, construtores ignorantes, mas copiado das estrelas da arquitectura que o validaram e tornaram moda. Cada vez há mais uma casa antiga que foi violentada, esvaziada, e deixada com a fachada de fora e uma caixa com caixilharias metalizadas a sair por trás. As janelas de madeira desaparecem, substituídas por um vidro com aros invisíveis. A pedra que devia estar protegida por reboco é deixada à vista. O telhado que servia de caixa de ar é aplanado e transformado em sotão recuado revestido a cobre ou zinco. Põem-se madeiras novas, envernizadas, portas de garagem e de entrada planas e sem pormenor. O volume do elevador aparece colado a uma das paredes. Afirmando bem a nossa época com o mecanismo e os cabos à vista. Porto, Aveiro, Guarda. Como cogumelos aparecem nas nossas cidades, ao lado de outros edifícios belos, antigos, a cair e à espera de igual ou pior fortuna, à mercê do humor do iluminado que lhes pegar.
Em Aveiro já quase não existe nada que valha a pena ver, na Guarda continua-se a escangalhar tudo o que se pode em nome desta moda estúpida e de dar que fazer às pessoas. Falo de cidades que já tinham pouco de centro histórico, mas que até há não muitos anos tinham nele essa característica do antigo: o ser único, por ser feito à mão. Com cada casa que cai e cada objecto modernaço que se levanta, ficam mais parecidas a tudo o resto, a toda a pobreza de paisagem que se apodera do nosso pobre país. Que, cada vez mais pobre, mais destrói as casas antigas, que são das poucas riquezas que possui. Pode ser que mude, e espero que não seja tarde.